" Sábado passado fui convidado para assistir um espetáculo de uns moleques da UnB que ganharam um financiamento colaborativo e que estão em cartaz na Sala Adolfo Celi na Casa D'Itália. Eu fui. Daquele meu jeito de muito mau humor interno, nem reclamei da vida. Só falei que eu não gostava de teatro, e como eu não estava na Marília Gabriela ninguém me encheu a paciência. Daí assisti a peça Entre Quartos, do Grupo Tripé. Fico a-d-m-i-r-a-d-o com a força que só a juventude dos 20 anos tem. Eles falaram de relacionamento, de amizade, de amor, dos vazios pessoais, de como viver juntos, entre tantos quartos que estamos, das lacunas, das coisas que não foram ditas. Enfim, os atores se disponibilizam a um jogo que muito me interessa no meu processo criativo que é, o jogo da próprias descobertas. Nunca tinha visto gente tão jovem, em Brasília, dizendo e fazendo algo tão particular sem o olhar e sem o dedo de um grande diretor-professor. Gostei do compromisso que os atores tem com a busca de uma verdade, com a busca de uma linguagem. Eles conseguiram me surpreender muito. Confesso que não esperei aquilo tudo. Alguém pode me perguntar: Mas é tão bom assim? Não tem nenhum problema? Penso que sempre haverá um problema. É Teatro, ou seja, tudo pode estar bem e aí, nesse bem,está o problema. Resquícios que o Teatro roubou da vida. Voltando, sim sempre teremos problemas, mas vale muito a pena ver atores jovens que batem de frente com suas limitações e tentam virar o jogo. Fiquei feliz de ter presenciado essa estréia na vida profissional naquele lugar onde eu também comecei. Cheguei em casa e fiquei pensando no poder de transformação do pensamento e da ação jovem, daquilo que ainda não se contaminou com as nossas carcaças ideológicas. Fiquei feliz de ver que tem gente que escolhe o caminho que quer trilhar, com os recursos que tem, do jeito que quer e pode. O espetáculo propõe outra forma de interpretação, quando em geral nessa idade os atores estão perdidos em arremedos de teatro clássico, em Entre Quartos eles se colocam para chegar nesse lugar em alguns momentos(que pra mim são os piores). Alguém me falou do quanto eles são blasé(é o que eu mais gosto e acho que podem ser ainda mais). Alguém e eu lembramos do teatro argentino(não me incomoda, até acho legal). Alguém e eu pensamos que eles parecem hipsters, meio neo-punk suave(ótimo, os atores exploram a humanidade dentro desse universo, e isso bom). Enfim, de novo, adorei e se eu fosse você iria assistir ele nesse final de semana. Vale a pena! "
Leonardo Shamah, 18 de abril de 2014, em sua página pessoal de Facebook